Destino: Deserto do Atacama, Chile
Você, com certeza, já deve ter usado a palavra “deserto” para se referir ao vazio de um lugar ou de uma situação. Afinal, convenhamos, o deserto é um local árido, sem vida, com pouco ou nada para ser visto, certo?
Lamento informar que, se você se você concorda com a afirmação acima, está irremediavelmente errado. O deserto do Atacama, no norte do Chile, é uma das provas de que a natureza não deixou de ser generosa com esses locais de baixa precipitação pluviométrica. São paisagens impressionantes, tons de azul e vermelho jamais catalogadas, lagoas de sal, vulcões calados, sem falar na fauna e flora únicas.
Note que estamos falando do mais alto e árido deserto do mundo. Segundo a Wikipedia, é o lugar na Terra que passou mais tempo sem presenciar chuvas: foram 400 anos (quatrocentos, isso mesmo) sem indícios de uma gota de água vinda do céu.
Mesmo para aqueles que ouviram falar dos seus atrativos naturais – como foi o meu caso – o Atacama é capaz de embasbacar o mais cínico dos mortais. Talvez sejam as toneladas de quartzo e de cobre debaixo da terra, talvez seja a herança indígena dos aymaras que impregna as sopradas de vento ou, quem sabe, a inacreditável profusão de corpos celestiais acima de nossas cabeças. Não importa: penetrar no Atacama é deixar um pouco de si mesmo para trás (incluindo ideias como a de que o deserto é “deserto”).
Essas tem sido razões suficientes para tornar San Pedro de Atacama, uma das portas de entrada para o deserto, é um dos mais populares destinos turísticos do Chile. Encravada a 2440 metros de altitude, San Pedro é um pequenino povoado de 3 mil habitantes dedicado ao turismo com ar rústico e muito acolhedor. Mesmo em baixa temporada, você vai desembolsar bem mais do que pousadas e hotéis têm a oferecer. Mas o investimento vale cada centavo de peso chileno gasto na jornada.
O povoado já foi ponto de parada obrigatória nos tempos pré-colombianos na rota entre as montanhas e a costa chilena. No século XX, os transportadores de gado paravam por ali antes de seguir jornada para o campos de nitrato do deserto. Durante os passeios por Atacama, ainda é possível encontrar algumas áreas agrícolas milenares, onde a população local ainda cultiva frutas e vegetais.
Fotos e descrições dos atrativos de Atacama são injustos com sua grandeza. Por isso, depois dessa viagem de apenas quatro dias (a próxima será para a vida toda), posso oferecer os seguintes conselhos:
1. Leve uma grande mochila e se prepare para climas extremos: roupas leves para o calor infernal das manhãs e pesadas o suficiente para segurarem o frio que podem chegar a 25 oC negativos às 4 da manhã na área dos geiseres.
2. Não deixe de observar as estrelas no deserto. Dizem os especialistas que esse é um dos melhores lugares do mundo para contemplar os corpos celestes. Deve ser verdade: o maior radio telescópio do planeta está sendo construído no local a partir do projeto que leva o instigante nome de A.L.M.A. Alugue um carro e fuja e madrugada para o deserto ou faça um tour pelas estrelas com o astrônomo francês Alain Maury. Com muito humor, ele vai explicar como “ler” as estrelas e você ainda poderá observar os astros por meio de alguns telescópios espalhados no local onde ele montou com sua mulher o Servicios Astronomicos Maury y Compañia (055 851 935 ou http://www.spaceobs.com). O tour noturno de duas horas e meia vale 30 reais e dá direito a uma caneca de chocolate quente no final das observações (acredite: você vai precisar de pelo menos duas delas para se reaquecer). Nota: A foto abaixo foi tirada por Maury usando um de seus telescópios.
3. Pukara de Quitor. Alugue uma bicicleta no final de tarde e parta para as ruínas para Pukara de Quitor, a 15 minutos de pedaladas de San Pedro. Prepara-se para uma escalada de 10 minutos até o cume das ruínas e ganhe uma vista panorâmica de todo o vale, com direito a vulcões comportados.
4. Você pode ficar dias, meses, anos conhecendo e se envolvendo pelo Atacama (ou até pensar em ficar por lá, como foi o meu caso). Mas os passeios mais populares (e não menos magníficos) são:
Lagos Antiplanicos: Conheça os flamingos pela manhã na Laguna Chaxa, no Salar de Atacama, e depois dirija-se aos lagos Miñiques e Miscanti e preste atenção na cor dessas formações milenares de água e pedra. Você já tinha visto algo tão incrivelmente azul e salgado?
Gêiseres do Tatio – É um dos hits do Atacama com toda razão: é incrível ver a água a uma tempetatura de 85o C saltando de pequenas fissuras do chão e formando espetaculares cortinas de fumaça em meio ao amanhecer no deserto. (Confesso que almadiçoei a mim mesma por ter aceitado acordar as 3h50 da manhã e enfrentar o frio de -12 oC. Mas o cenário de ficção rapidamente descongelou meu mau humor). Lembrando que os gêiseres de Tatio são formados quando rios gelados subterrâneos entram em contato com rochas quentes.
Valle de la Luna – Ver o multicolorido espetáculo de cores nas montanhas, vulcões sonolentos e rochas do Vale é paraíso para fotógrafos amadores e profissionais. Quem disse que Deus não usa PhotoShop?
Laguna de Cejar – Flutue por uma das lagoas mais salgadas do mundo, confira porque é tão difícil (impossível?) chegar até o fundo dela e contemple, ali mesmo, o entardecer multicolorido com um Pisco Sour gelado. Dica: convença seu guia a fica até o início da noite e, no caminho de volta, peça para parar no deserto. A visão celestial e os sopros de vento valem CADA segundo da viagem ao Atacama.
E se você ainda acredita que deserto é sol, areia e rocha, confira o próximo post.
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