Sexo e as mulheres: dois filmes, duas medidas
Nos cinemas da Cidade do México, estão em cartaz dois filmes que tratam da sexualidade feminina. Um deles é Sex and City, versão para a tela grande do badalado seriado de TV. O outro é Irina Palm, produção inglesa dirigida pelo diretor Sam Garbarski. Em apenas um deles o espectador encontrará um retrato inteligente e atual da realidade da mulher nesses primeiros anos loucos do século XXI.
Em Sex and City, o filme, as quatro inseparáveis amigas novaiorquinas estão de volta com suas intermináveis discussões sobre sexo regadas a Cosmopolitan. Desta vez, toda a produção de estrogênios está dedicada ao casamento da colunista Carrie Bradshaw, personagem principal da série interpretada por Sarah Jessica Parker.
Em Irina Palm, Marianne Faithfull é Maggie, uma viúva de 50 anos que mora na periferia de Londres. Mergulhada em dívidas e recusada por empregadores em razão da idade avançada, Maggie decide trabalhar em um bordel para pagar a cirurgia do neto de 7 anos.
Em Sex and City, o filme, todos os resquícios de irreverência inteligente que ainda existiam no seriado da HBO foram esterilizados. São as mesmas personagens, nas mesmas situações, calçando os mesmos Manolo Blahnik. Só que, desta vez, a trama parece ter sido transportada para a Ohio de 1950. O sexo deu lugar ao desejo ardente de ter … uma família! Carrie, a colunista linda e liberada, vive para seu casamento com Mr. Big. Samantha (Kim Cattrall) deixou o emprego e a vida de devoradora de homens para se dedicar única e exclusivamente a um garotão milionário, que banca todos seus caprichos (incluindo um anel de US$ 50 mil). Miranda (Cynthia Nixon), a advogada, aparece apenas quando reclama de uma derrapada sexual do marido. Charlotte (Kristin Davis)…bem, ela continua se dedicando, de forma admirável, a manter no lugar a sua cabeça-de-vento. É bem verdade que ela o único personagem que manteve a coerência com a série. Seu único interesse foi sempre ter lá seu kit marido-filhinha-cachorrinho.
Nada contra a opção das moças. Mas, durante todo o filme, só pensava em uma coisa: correr atrás de marido e desafogar as tristezas em uma loja de sapatos é o que nos resta?
Em Irina Palm, Maggie é uma inglesa sem os encantos, sapatos ou qualificações acadêmicas das trintonas de Nova Iorque. Também tem três amigas – algumas ultrapassando a casa dos 50 – mas nenhuma veste Padra. Em lugar de freqüentar os bares da moda do Soho, elas queimam o tempo livre jogando cartas e tomando Earl Grey com leite.
Mas, surprise! Maggie é mais audaciosa, libertária e liberada que Carrie e suas amigas. Para evitar a morte do neto, enfrenta as barreiras internas – sempre as piores – e as sociais e topa trabalhar em bordel em Londres. O roteiro poderia cair no cliché e vitimizar a velhinha inglesa que masturba homens. Não é o que acontece.
O filme não tem pena do espectador. Ao oferecer a realidade tal como ela é, a trama consegue expor, de forma sutil e até bela, o processo de re-conhecimento da mulher de 50 anos em relação à própria sexualidade. No caso de Maggie, esse despertar acontece na maneira mais terrível e amarga – contra o seu desejo, por necessidade, sem amor. Mas o bordel é apenas o pano de fundo de uma história de conseqüencias mais complexas. Maggie rompe falsos moralismos, descobre seu próprio potencial como mulher e, pela primeira vez na vida, faz suas próprias opções.
Irina Palm consegue prender a atenção do telespectador com temas e personagens poucos atrativos em uma sociedade cada vez mais ávida por consumo. Maggie, a dama inglesa, talvez nunca receberá como declaração de amor um gigantesco closet para sapatos (um dos momentos mais “românticos”de Sex and City). Mas ela ganhou, definitivamente, algo melhor: cérebro!
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